Entrevista do Prof. Roberto Márcio ao Jornal A Tarde (01/06/08) - Resíduos

02/06/2008 14:07

A TARDE On Line

01/06/2008 (22:33)

Reciclagem oferece oportunidade de negócios

Carolina Mendonça, A TARDE On Line

O processo de reaproveitamento de materiais utiliza apenas 17% dos resíduos sólidos descartados na capital baiana, de acordo com estimativas da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). O percentual, no entanto, não é preciso, já que não contabiliza o trabalho dos catadores autônomos da cidade. “Atualmente, não temos este controle, porque a maior parte da coleta é realizada por catadores de rua, que não estão cadastrados”, admite a coordenadora técnica da Limpurb, Fátima Sampaio.

Ainda segundo a empresa, a capital conta atualmente com pelo menos 24 cooperativas e associações de catadores, que empregam mais de 700 pessoas que têm a catação como única fonte de renda. A categoria cria o elo entre a separação do lixo em casa e a venda para indústrias que compram material reciclável. “A presença dos catadores em Salvador é fundamental. Se não fosse por eles, a situação estaria bem pior”, analisa o mestre em química analítica ambiental Roberto Márcio Santos.

Já com relação à Bahia, não há dados disponíveis, já que os programas de coleta e reciclagem de lixo são conduzidos pelas prefeituras de cada município, e não há uma centralização das informações. Porém, a pesquisa Ciclosoft 2008, realizada pelo Cempre - Compromisso Empresarial para Reciclagem -, revela que apenas 10 municípios baianos desenvolvem programas de coleta seletiva: Alagoinhas, Camaçari, Eunápolis, Feira de Santana, Jequié, Mirante, Mucugê, Muritiba, Vitória da Conquista e Salvador.

Sem estrutura - A atividade dos catadores representa uma alternativa de sobrevivência para estas pessoas que, com mais investimentos em transporte e máquinas, poderiam aumentar sua produtividade e os ganhos. “Hoje vendemos o quilo do PET (garrafas de refrigerante) inteiro a R$ 0,75. Se tivéssemos uma máquina para granular o material, poderíamos comercializar os flocos a R$ 4,00 o quilo”, explica o administrador da Cooperativa de Reciclagem e Serviços do Subúrbio Ferroviário (Cooperssf), Elias Pires dos Santos.

Dificuldades semelhantes são enfrentadas pelos membros da Cooperativa de Coleta Seletiva, Processamento de Plástico e Proteção Ambiental (Camapet), que funciona na Baixa do Fiscal. “Como não temos uma produção de grande escala, acabamos vendendo mais barato e para atravessadores”, lamenta o cooperado Jovane Bispo, 20. Ainda assim, o comércio dos resíduos e de bijuterias feitas a partir do PET rende aproximadamente um salário mínimo por mês aos catadores desta cooperativa.

Mercado verde – Economicamente, a reciclagem é interessante também para as empresas que compram resíduos sólidos e os reaproveitam. Sem citar números, o gerente industrial da Penha Papéis, Daniel Lucon, garante que, no caso desta empresa, é mais vantajoso reaproveitar o lixo do que comprar matéria prima. “Por mês, utilizamos mais de sete mil toneladas de papelão, totalizando 85 mil toneladas ao ano. Esta quantidade (ano) equivale a 1,7 milhões de árvores que deixam de ser cortadas”, ressalta. Localizada em Santo Amaro da Purificação, a empresa utiliza 100% de papelão descartado para a produção de papel.

De acordo com dados da pesquisa da Cempre relativos a este ano, na Bahia há 33 fábricas de reciclagem, sendo que cerca de metade delas se concentra na capital e municípios próximos: oito em Salvador, seis em Feira de Santana e três em Simões Filho. Segundo Roberto Márcio Santos, o mercado do reaproveitamento de resíduos tem grande potencial para crescer em todo o país. “Do lixo domiciliar despejado em aterros no Brasil, cerca de 20% poderia ser reciclado, mas acaba se perdendo com o resto” afirma.

A ampliação dos programas de reciclagem de papelão e dos outros resíduos domiciliares é apontado com o melhor caminho para desafogar os aterros sanitários e evitar a retirada da natureza de grandes quantidades de matéria prima. Mas este avanço só será possível com a participação do cidadão, peça-chave na cadeia produtiva do lixo.

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